Sentado no velho
banco de madeira, apreciando o horizonte cinza, pensamentos destravam e enchem
os pulmões de sua memória de gratidão. Entre um sorriso tímido e um lento espreguiçar,
palavras antes adormecidas começam a despertar e exigir um lugar ao sol.
“A mesa virou, a
chuva inundou, a partida está em outro ritmo” – dizia a si mesmo.
As inúmeras
situações inexplicáveis que impregnaram violentamente sua alma e as muitas
desilusões já não o acompanhavam durante o dia e não o perturbavam quando a
noite nascia. Foram esquecidas, saíram de cena e cederam espaços para algo mais
elegante.
“Chega de reclamar!”-
pensava alto.
Já não se escuta o
som murmurante, costurado com linhas abatidas e rancorosas, que ecoava nos
becos e vielas. A desesperança e a ingratidão foram dissipadas e raramente a neurose bate na porta da consciência, porém não há quarto para hóspedes indesejados e
enlameados de engano.
Que privilégio é poder
apreciar o canto da cigarra. Quem imaginaria esse cheque-mate fora de época?
Luz, palavras e coração foram mesclados ao perdão, abraços e reconciliação. O
novo roteiro trouxe uma perspectiva distinta. Agora o desejo é de enxergar mais
sal em suas pegadas.
“Novos problemas,
sejam bem-vindos!” – disse em voz alta, antes de se levantar da cadeira.
O caminho de volta
não pede muita falação, pois falação é pra quem quer ser eleito – já dizia um poeta. Certamente chegou o momento de pichar paredes eternas e inalar gás
lacrimogêneo a favor do amanhã. Cantar mesmo com o time em desvantagem no
placar e não perder a ternura jamais.
“Não quero dormir com travesseiro caro, quero estar acordado, quero
ser acordado...” – sonhava enquanto caminhava em direção oposta.
Muito bom!!!
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