Era
noite e o calor estava insuportável. Para João, uma cervejinha seria perfeita para
matar a sede e refrescar o corpo, que já não aguentava mais aquela temperatura
exagerada.
Resolveu
sair e fazer um rolê
pelo bairro. Vestiu bermuda e camisa regata, despediu-se da sua mãe e desceu o morro rumo ao mercadinho da rua de baixo.
Ao virar a esquina, passou na frente do Bar Bagdá, famoso por sediar campeonatos de truco.
Olhou
para dentro com a intenção de
encontrar algum conhecido que pudesse acompanhá-lo até o seu destino, mas não
viu ninguém. Havia alguns malucos tomando cerveja e cachaça. O ambiente parecia
um pouco tumultuado. De repente, um grito veio de dentro:
- E
aí, diow? Encosta aqui pra tomar uma breja comigo.
Ele
parou e viu seu amigo Mário vindo em sua direção. O convite mataria a sua sede
e cancelaria a sua missão de ir até o mercado. Mas João não gostava de bar, seu
pai lhe havia ensinado que esse ambiente não é muito bom, principalmente quando
todos estão bêbados, pois qualquer motivo é motivo para brigas.
Apesar
do conselho paterno ter surgido em sua mente, ele refletiu:
-
Que mal poderá me acontecer? Meu pai que me perdoe, mas eu vou entrar.
Entrou
no boteco e sentou-se junto à mesa de seu amigo, que já havia bebido várias cervejas.
Conversaram bastante, relembrando situações passadas e também discutiram sobre a
última rodada do campeonato nacional de futebol. Também repararam em uma mulher
muito atraente sentada à mesa ao lado. Ela vestia uma blusinha amarela e uma
saia jeans muito curta, impossível de não notar.
Conversa
vai, conversa vem e João começou apresentar sinais de embriaguez, enquanto
Mario, já enlouquecido, se descontrolava. A moça
da mesa ao lado desfilava pelo estabelecimento a todo o momento, chamando ainda
mais a atenção da dupla.
Mário
desconfiou que a moça e o dono do bar possuíam um romance, pois escutou um
rapaz dizer: “Vá buscar mais goró pra gente! O seu namoradinho faz de graça pra
você". Porém, para o amigo de João, isso não era problema. Ele pretendia conquistar de qualquer maneira a menina
da sainha curta.
As
horas passavam e o Bagdá precisava abaixar as portas. Mário não aguentou e foi
xavecar a mina. Ao chegar perto dela, antes de falar qualquer coisa, foi
surpreendido por um soco na nuca e saiu correndo para fora do recinto, deixando
seu camarada em uma situação complicadíssima.
O
dono e mais uns cinco comparsas rodearam o pobre João, que
só tinha quinze reais no bolso.
- E
aí, safado? Pague a conta e suma daqui pra não levar um sacode - disse um
deles.
Extremamente
apavorado, João disse só ter alguns trocados, insuficientes para quitar a
dívida e que só estava ali a convite do Mário.
Também explicou que não falou nada para a moça e implorou a eles para deixá-lo
ir embora.
Enfurecidos,
não acreditaram na conversa dele e o espancaram. Entre socos, chutes e
cadeiradas, a covardia tomou conta do lugar.
Ensanguentado e desacordado, o jovem foi jogado na calçada e o bar, fechado.
Todos sumiram.
Alguns
moradores, ao verem o corpo todo arrebentado, ligaram para o Samu, que chegou
rapidamente. João foi levado ao Hospital da Misericórdia, onde foi
atendido com urgência, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nos braços dos
enfermeiros.
Ao
receber a notícia, dona Maria, mãe de João, caiu de joelhos e gritou aos céus
perguntando a Deus o porquê de uma desgraça como essa ter alcançado o seu lar.
Seu marido, "seo" Joaquim, ficou perturbado e não entendeu o que
havia passado na mente do seu menino, que era obediente, trabalhador e recentemente
havia ingressado na faculdade, onde conseguiu uma bolsa para estudar História.
Infelizmente,
João não será um historiador, seu sonho foi interrompido por uma fatalidade.
Mário fugiu do bairro, dizem que foi morar em outro estado. Talvez esteja com
remorsos e com medo de ser a próxima vítima. A rapaziada do Bagdá continua lá,
bebendo e jogando truco. A garota atraente também segue vestindo sua roupinha
curta e gerando discórdia por onde passa.
Babilônia!
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