Olá, Anita.
Quanto tempo, hein! Passei um tempão sem escrever
pra você e sem saber como você está. Certamente deve estar feliz com o título
da Copa do Brasil, pois seu pai está alucinado com a conquista.
Então, ainda moro em Maringá. Acredita que quase me
mudei desse planeta? Foi por pouco. Eu estava na garupa de uma moto e meu amigo
perdeu o controle. Fui lançado em uma placa de trânsito e matei a placa como se
mata uma bola de futebol. Permaneci estirado no meio da rua, desmaiado, talvez
por uns 10 minutos.
Acordei quando já estava amarrado a uma maca,
entrando em uma ambulância. Abri os olhos e me assustei, porque nem sabia o que
havia acontecido. O pessoal do resgate foi muito competente e serei grato a
eles pelo resto da vida. Cheguei ao hospital e logo um enfermeiro veio me
receber, não me lembro muito bem, mas havia uma fila de maca pra entrar para o
corredor, depois para o raio-x e depois para o corredor novamente, já que não
havia lugar disponível nos quartos.
Meu celular estava sem bateria e só consegui avisar
a minha namorada cinco horas depois do acidente. Foi uma moça que acompanhava
outro acidentado que me ajudou a ligar, e logo a Estéffany chegou para me ver
naquele estado. Confesso que quando ela apareceu eu comecei a chorar, sei lá,
me sentindo culpado por ter me envolvido nessa bagunça toda. Os funcionários
não a deixaram ficar muito tempo no corredor, alegando que se quisesse
permanecer no hospital teria que esperar nas cadeiras da recepção.
Durante a madrugada, um ladrão que estava recebendo
atendimento conseguiu fugir. Só escutei os gritos e vi uma policial em choque,
correndo com uma arma em punho. Imagina se ela atira? Ainda bem que ela foi
sensata e não quis colocar a vida dos enfermos em risco, apesar de que ali,
todos corriam algum tipo de risco.
Quando amanheceu, lá pelas seis da manhã, chegaram
vários estudantes de medicina. Uma médica ia de maca em maca, andando pelo
corredor, questionando os doentes e mostrando aos futuros médicos como se
entrevista alguém jogado em um corredor de hospital. Enfim, depois desse fato,
me liberaram.
Cheguei em casa com um corte perto do pescoço e uma
dor enorme no ombro. Após dois dias, na sala de casa, minha clavícula quebrou.
Um amigo conseguiu uma carona e eu voltei para o hospital. Descobri que me
liberaram com o osso trincado. Naquele momento, se iniciou um tempo difícil e
desgastante, porque longe de casa, tive que depender das pessoas até para
cortar um simples bife.
Após três meses e meio eu fui liberado pelo médico
para retirar o oito que prendia minhas costas e ajudava minha clavícula a ficar
reta. Mesmo separados por alguns centímetros, meu osso colou. Nasceu um calo
gigante que os uniu novamente. Porém, meu braço ainda não está legal, meu ombro
perdeu o movimento e aos poucos está voltando a se mexer.
Sabe, nesse tempo eu aprendi bastante. Primeiro que
moto não é brinquedo e segundo que algumas pessoas são especiais e vão estender
as mãos quando for preciso. Vou te contar alguns segredos, mas nem comenta com
ninguém: Um grande amigo me mandava mensagens semanalmente dizendo para eu me
alimentar direito e até falava o que eu deveria comprar no mercado para seguir
uma alimentação que me ajudasse a sarar mais rápido. Outro amigo, que também
havia quebrado a clavícula, me disse como funcionaria todo o processo de
recuperação. Acredita que tudo que ele me disse aconteceu? Esse amigo me
acalmou bastante, pois eu fiquei bastante nervoso e confuso com a fratura.
Voluntariamente, duas amigas me mandaram dinheiro, bem no mês que recebi metade
do salário e estava precisando muito (elas nem sabem que foram
superimportantes). O pessoal de casa também me auxiliou demais e tiveram
bastante paciência comigo, até mesmo quando surtei e meti o pé na porta (sim,
quebrei a porta). Minha namorada foi amiga, parceira, médica, cozinheira,
psicóloga e também precisou ser muito paciente quando eu fazia drama e achava
que o osso não ia colar nunca mais. Outros amigos também apareceram e me
mandavam mensagens de apoio diariamente.
Olha, foi tenso esse tempo. Minha vida passou
diante dos meus olhos durante esses meses. Aprendi a tirar o lado bom de tudo
isso. Já que aconteceu, vou tirar uma importante lição de toda essa confusão e
colocar em prática o que aprendi.
Quero deixar um pedacinho de uma poesia do Sérgio
Vaz para você: “Tenho más notícias: quando o bicho pegar, você vai estar
sozinho. Não cultive multidões”.
As palavras do poeta me ajudaram a enxergar que
cultivar multidões não é bom, e bom mesmo são os poucos amigos que temos. Eles
são valiosos como água no deserto.
Escrevi demais, né, Anita?
Desculpa, mas foi a primeira vez que consegui
escrever sobre o acidente.
Que você tenha um ótimo 2016!
Beijão!
Marquinho.
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