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sexta-feira, outubro 04, 2013

Liberdade

Sentado no velho banco de madeira, apreciando o horizonte cinza, pensamentos destravam e enchem os pulmões de sua memória de gratidão. Entre um sorriso tímido e um lento espreguiçar, palavras antes adormecidas começam a despertar e exigir um lugar ao sol.

“A mesa virou, a chuva inundou, a partida está em outro ritmo” – dizia a si mesmo.

As inúmeras situações inexplicáveis que impregnaram violentamente sua alma e as muitas desilusões já não o acompanhavam durante o dia e não o perturbavam quando a noite nascia. Foram esquecidas, saíram de cena e cederam espaços para algo mais elegante.

“Chega de reclamar!”- pensava alto.

Já não se escuta o som murmurante, costurado com linhas abatidas e rancorosas, que ecoava nos becos e vielas. A desesperança e a ingratidão foram dissipadas e raramente a neurose bate na porta da consciência, porém não há quarto para hóspedes indesejados e enlameados de engano.

Que privilégio é poder apreciar o canto da cigarra. Quem imaginaria esse cheque-mate fora de época? Luz, palavras e coração foram mesclados ao perdão, abraços e reconciliação. O novo roteiro trouxe uma perspectiva distinta. Agora o desejo é de enxergar mais sal em suas pegadas.

“Novos problemas, sejam bem-vindos!” – disse em voz alta, antes de se levantar da cadeira.

O caminho de volta não pede muita falação, pois falação é pra quem quer ser eleito – já dizia um poeta. Certamente chegou o momento de pichar paredes eternas e inalar gás lacrimogêneo a favor do amanhã. Cantar mesmo com o time em desvantagem no placar e não perder a ternura jamais.

“Não quero dormir com travesseiro caro, quero estar acordado, quero ser acordado...” – sonhava enquanto caminhava em direção oposta.