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sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Futebol dos amigos




Em plena quarta-feira, movida pela forte garoa que molhava os desprevenidos, meu amigo Flavinho decidiu que naquele dia assistiríamos o Tricolor no Morumbi. Antes do galo cantar,  ele me ligou dizendo que às 15 horas nós iríamos até o bar que fica perto do estádio, na Saad, para ver a Seleção Brasileira jogar e logo em seguida caminharíamos até o Cícero Pompeu de Toledo.

Com aquele tempo, certamente poucas testemunhas compareceriam para presenciar a espetacular batalha entre São Paulo e Ponte Preta. Particularmente, desde que comecei a frequentar os campos de futebol, não me importo se o estádio está vazio e às vezes, até prefiro.

O Fom e o Magal também se animaram a ir e, uma hora depois do horário marcado, saímos em direção à Dutra. Durante o caminho, ao avistar as paredes da Rodovia repletas de "pixações" do nosso amigo que havia falecido no primeiro dia da semana, lamentamos e refletimos sobre a fatalidade que o levou para mais perto do Criador. Lembramos que ele era fanático pelo Santos e ao falar do time da Vila, recordamos sobre o clássico que o Soberano perdeu no último final de semana. Três a um, roubado, para o clube do litoral...  ele deve ter gritado os gols lá do céu, ao lado de Moisés e Abraão.

Naquele momento não estava frio. Magal, Fom e eu havíamos esquecido nossas blusas e somente o Flavinho foi prevenido. Apesar de haver trazido sua jaqueta, o filho do Gaspar calçava um tênis que parecia uma bola de futebol americano, que após alguns passos, o presenteou com algumas bolhas em seu pé direito.

Ao chegar no Bar, a chuva já caía e o vento começava a mostrar que também testemunharia a partida. Enquanto o Brasil apresentava um futebol de amador, comemos uma porção de frango à passarinho e para finalizar a janta, cada um comeu um lanche. Alguns senhores, com os olhos atentos à TV, reclamaram do Neymar. Segundo eles, esse safado só joga bem por aqui, lá fora tem vontade de pedir autógrafos para os gringos.

Aproveitando o momento, um vendedor de capas de chuva apareceu e nos ofereceu o produto. Não pensamos duas vezes e compramos as blusas de plástico. Isso ajudaria a frear o vento.
Não torço pra Seleção e quando o Luís Fabiano foi substituído, achei injusto. O Felipão deveria ter colocado o Fabuloso para jogar com o Lucas e não com o Ronaldinho, que não fez nada além de perder um penalti.

O amistoso acabou, a Inglaterra ganhou e nós, debaixo de uma garoa, andamos até uma farmácia para comprar um Band-Aid pois o menino que vestia dois pares de meia e calçava o tênis super apertado, já não aguentava caminhar.

Problema resolvido, fomos em direção à nossa segunda casa. Quase não havia torcedor pela rua, mas o policiamento estava lá para manter a ordem. Os Guardas Metropolitanos também marcaram presença. Posicionaram-se como um exército para evitar que os ambulantes vendessem seus produtos. Mesmo assim, os trabalhadores se escondiam e comercializavam seus refrigerantes, suas cervejas e suas capas de chuva.
Paramos em frente à antiga Banca da Placar e esperamos a chuva amenizar. São Pedro nao colaborou. O Fom disse para continuarmos a caminhada até a rampa de acesso. Talvez o portão já estivesse aberto e no corredor do estádio a chuva não nos alcançaria. 

Magal comentou sobre a falta de respeito dos organizadores do campeonato. Neste ano, a Federação aumentou o preço dos ingressos para 40 reais, um absurdo para um país como o nosso. Eles sabem que apesar desse valor, os torcedores que são apaixonados por seus clubes, desembolsam a quantia que for necessária para ver seu time jogar. Mas, graças à diretoria do São Paulo, o setor amarelo custa 10 reais, e foi ali que assistimos Lúcio, Osvaldo, Ganso e companhia parar na defesa do time campineiro.
Enquanto o jogo não acabava, o Fom e o Magal comeram umas três caixinhas de Ragazzo e o Flavinho quase não viu as jogadas porque a chuva molhava as lentes de seus óculos.

Bom, sabe aquele dia que o 0 a 0 estava escrito desde o início da partida? Pois é, foi assim. Jogo truncado, cadeiras vazias, chuva, frio e um São Paulo apático em campo. Alguns torcedores criticaram a falta de raça da equipe, outros incentivaram o tempo todo e teve um maluco que passou o intervalo inteiro xingando a imprensa. O público pagante foi de 5 mil e poucas pessoas. Quatro mil a mais do que o São Paulo e União São João que meu pai me levou debaixo de um temporal, quando eu tinha 14 anos.

Após o apito final do árbitro, o céu abriu e as nuvens carregadas foram embora. Apesar do resultado e do tempo desfavorável, sempre é bom estar no Morumbi, e com os amigos é melhor ainda. Além do futebol, colocamos a conversa em dia e agradecemos pela amizade que fez da simples quarta-feira, um dia eternizado na memória de cada um.


4 comentários:

  1. Momento extraordinário, pois não são todas quartas que temos uma brecha no sistema e conseguimos ir até o campo para ver futebol. A amizade dita o ritmo e não há jogo morno que esfrie a torcida apaixonada. Grande abraço! *FoM

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