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sexta-feira, junho 02, 2017

Primeiros 10km

Não era sonho de criança nem hobby de quem chegou aos 30 e não virou jogador de futebol. Tudo começou quando eu me mudei pra Maringá e já não tinha os amigos pra jogar bola durante a semana. Então, para não enferrujar, comecei a correr ao redor da Vila Olímpica, sem pretensão de participar de nenhuma prova.

Corria e caminhava durante uma hora, três vezes por semana. Até que um dia me falaram de uma tal prova da Tiradentes que acontecia na cidade, que era um importante evento do calendário anual dos corredores maringaenses, e o percurso unia dois parques da região central. O problema é que eram 10 quilômetros e eu não aguentava correr nem 5.

Bom, aceitei o desafio e escolhi a Prova Rústica Tiradentes para ser a minha primeira corrida. Aumentei o ritmo de treino e melhorei a alimentação. Escolhi a Vila Olímpica e o Bosque 2 para serem meu CT da Barra Funda.

Os treinos me animaram e um mês antes da prova consegui, finalmente, completar os 10km. Foi uma sensação que nunca havia experimentado. No Bosque 2, sozinho e debaixo de um sol quente, comecei a correr os primeiros quilômetros sem a pretensão de completar os 10km correndo. Caso não aguentasse, eu caminharia um pouco, pois era um treino e treino é treino, não precisaria me matar tanto. Respeitar o meu limite era importante.

Foi da hora. Até os 5 primeiros quilômetros eu sabia que aguentava, mas depois eu não sabia o que me esperava. Quando eu saio pra correr, nos primeiros 15 minutos eu sempre penso mil fitas. A mente parece entrar num liquidificador e muitos pensamentos começam a surgir. Geralmente, após o terceiro quilômetro, o cérebro começa a acalmar, eu "entro" nas ruas da Filadélfia e corro com meu amigo Rocky Balboa até a escadaria do Museu de Arte.

Este treino foi marcante. Após meia hora correndo, do quinto quilômetro até o décimo, comecei a lembrar de algumas fases da minha vida onde eu precisava de resistência e superação. Situações em que eu não poderia parar por nada e teria que continuar a corrida da vida, por mais que as circunstâncias gritassem que a melhor opção fosse a desistência.

Também lembrei de alguns amigos que sempre me apoiaram e me aconselharam. Amigos que eu posso conversar sem restrições e em quem busco sabedoria quando preciso tomar alguma decisão. A sensação era que eles estavam ali, naquele treino, falando pra eu continuar até fechar os 10 quilômetros.

O corpo cansado pedia água e descanso. As pernas já sinalizavam algumas dores, mas eu não parei. Até que os ponteiros anunciaram o fim do jogo. A euforia e a alegria vieram me abraçar e a vontade de gritar era tão forte como um gol do São Paulo. Porém, não gritei. Tomei água e descansei durante alguns minutos antes de voltar pra casa. Naquele momento eu descobri que aguentaria correr a prova, que aconteceria dali um mês. A confiança era monstra. Eu havia vencido o desafio de correr sem parar durante 10 quilômetros, com o tempo de 1:06:49.

A expectativa aumentou. Já me imaginava completando o percurso e colocando a medalha no peito, tipo a sensação do Rocky chegando no final da escadaria. Sem querer, conheci um fascinante esporte que, além de mexer com a minha imaginação e melhorar a minha saúde, eu não precisaria competir com ninguém, a disputa seria sempre comigo mesmo. E, a partir daquele momento, a meta seria baixar o meu tempo e chegar inteiro no dia da Prova.