Não era sonho de criança nem hobby de quem chegou aos 30 e não virou jogador de futebol.
Tudo começou quando eu me mudei pra Maringá e já não tinha os amigos
pra jogar bola durante a semana. Então, para não enferrujar, comecei a
correr ao redor da Vila Olímpica, sem pretensão de participar de
nenhuma prova.
Corria e caminhava durante
uma hora, três vezes por semana. Até que um dia me falaram de uma tal
prova da Tiradentes que acontecia na cidade, que era um importante
evento do calendário anual dos corredores maringaenses, e o percurso unia
dois parques da região central. O problema é que eram 10 quilômetros e eu
não aguentava correr nem 5.
Bom, aceitei o desafio e
escolhi a Prova Rústica Tiradentes para ser a minha primeira
corrida. Aumentei o ritmo de treino e melhorei a alimentação. Escolhi
a Vila Olímpica e o Bosque 2 para serem meu CT da Barra Funda.
Os treinos me animaram e um
mês antes da prova consegui, finalmente, completar os 10km. Foi uma
sensação que nunca havia experimentado. No Bosque 2, sozinho e debaixo de
um sol quente, comecei a correr os primeiros quilômetros sem a pretensão
de completar os 10km correndo. Caso não aguentasse, eu caminharia um
pouco, pois era um treino e treino é treino, não precisaria me matar
tanto. Respeitar o meu limite era importante.
Foi da hora. Até os 5
primeiros quilômetros eu sabia que aguentava, mas depois eu não sabia o
que me esperava. Quando eu saio pra correr, nos primeiros 15 minutos
eu sempre penso mil fitas. A mente parece entrar num liquidificador e
muitos pensamentos começam a surgir. Geralmente, após o terceiro
quilômetro, o cérebro começa a acalmar, eu "entro" nas ruas da
Filadélfia e corro com meu amigo Rocky Balboa até a escadaria do Museu de
Arte.
Este treino foi marcante. Após
meia hora correndo, do quinto quilômetro até o décimo, comecei a lembrar
de algumas fases da minha vida onde eu precisava de resistência
e superação. Situações em que eu não poderia parar por nada e teria
que continuar a corrida da vida, por mais que as circunstâncias gritassem
que a melhor opção fosse a desistência.
Também lembrei de alguns
amigos que sempre me apoiaram e me aconselharam. Amigos que eu posso conversar
sem restrições e em quem busco sabedoria quando preciso tomar alguma
decisão. A sensação era que eles estavam ali, naquele treino, falando pra
eu continuar até fechar os 10 quilômetros.
O corpo cansado pedia água
e descanso. As pernas já sinalizavam algumas dores, mas eu não parei. Até
que os ponteiros anunciaram o fim do jogo. A euforia e a alegria
vieram me abraçar e a vontade de gritar era tão forte como um gol do São
Paulo. Porém, não gritei. Tomei água e descansei durante
alguns minutos antes de voltar pra casa. Naquele momento eu descobri que
aguentaria correr a prova, que aconteceria dali um mês. A confiança era
monstra. Eu havia vencido o desafio de correr sem parar durante 10
quilômetros, com o tempo de 1:06:49.
A expectativa aumentou. Já
me imaginava completando o percurso e colocando a medalha no peito, tipo a
sensação do Rocky chegando no final da escadaria. Sem querer, conheci um
fascinante esporte que, além de mexer com a minha imaginação e melhorar a minha
saúde, eu não precisaria competir com ninguém, a disputa seria sempre comigo mesmo. E, a
partir daquele momento, a meta seria baixar o meu tempo e chegar inteiro no
dia da Prova.