Maluco, que susto da porra.
Foram vários pipocos que nem entendi nada, só me assustei e caí. Que fita! Fui
surpreendido de repente que nem deu tempo de pensar, só sei que tô aqui, caído
na calçada.
Porra! Quem fez isso comigo?
Minha mãe vai chorar quando me ver neste estado. Ela fez um bolo de chocolate
pra comemorar meu novo emprego. Cadê o refrigerante que comprei? Filhos da
puta! Só fui comprar um refri ali no bar pra comer com o bolinho e me pegaram
na trairagem. Nem deu tempo de ver quem era.
Por que será que fizeram
isso comigo? Nem consigo falar, até pra pensar tá foda. Tem muito sangue saindo
de mim. Meu deus! Que maldade fizeram comigo. Alguém liga pro Samu. Na verdade
nem sei se tem alguém me vendo aqui jogado igual a um animal abatido. Caraca, mano.
Prevejo meu fim. Logo agora que reformei meu quartinho e consegui um trampo
registrado. Estava osso viver de bico.
Ainda bem que a Manu não
veio comigo. Graças a deus! Cadê vocês, seus assassinos de merda? Covardes! Não
fiz nada. País injusto da porra. Morre mais gente aqui do que lá pra aqueles
lados do Iraque. Certeza que morre. A pena de morte reina nesse Brazilzão sem lei.
Mas só tem um lado da sociedade condenado, o outro lado tem quem passa um pano.
E agora, truta? Minha
mãezinha vai passar mal e ela já tem problema de pressão. Ainda bem que meu pai
não tá vivo pra me ver assim. Caralho! Que dor da porra. E não para de sair
sangue. Tô com o barulho dos tiros e do pneu do carro dentro da mente.
Amanhã vou ser notícia. Vão
ganhar dinheiro com a minha desgraça. Aí, seus arrombado! Eu tenho nome, hein.
Nome e sobrenome. Sou trabalhador e tô aqui morrendo de graça, igual fizeram
com o Miltinho da Ladeira. Mataram o menino e o jornal disse que ele era do
crime. Do crime porra nenhuma, ele era suave.
Tenho que provar que sou
trabalhador? Por que só a gente daqui que tem que provar? Dessa vez nem tive
que provar, quem vai ter a tristeza de responder as perguntas dos carniceiros
vai ser minha mãezinha. Foda!
Alguém fala pra Manu que eu
sempre fui firmeza com ela. Infelizmente o casamento não vai virar. As balas
roubaram nosso sonho. Justo agora que arrumei aquele trampinho registrado. O
Moacir falou que ia dar uma viagem de presente de lua de mel. Mas agora fodeu
tudo. Nem deu tempo de casar, nem deu tempo de chegar aos 27. Nem deu tempo...
Nossa, mano. Foi tudo muito
rápido e já nem enxergo mais nada. Mãe, vem logo e me ajuda. Desculpa, mas eu
não consegui chegar a tempo pra comer o bolinho da senhora. Mas obrigado pelo
carinho de sempre. Se existir um deus mesmo, ele vai saber o que falar na hora
do tribunal. Meu sangue ainda tá quente.
Cadê o refri?