Sem dinheiro para passar a
noite vagando pela rua Augusta, o jeito foi aceitar o convite para um churrasco
na casa do cunhado. Não era exatamente o que Muta desejava, mas ficar em casa
naquela noite o levaria a uma depressão, pois a falta de emprego e a recente
ruptura de um relacionamento de quatro anos ainda o atormentava.
Difícil também estava sua
saúde. A famosa caxumba o visitou e agora faz morada em seu rosto. Tomou
remédio a semana toda e nada de melhorar. Também foi até uma benzedeira que
fazia uma simpatia que era tiro e queda, mas foi bote errado. Nem a medicina e
nem os rituais curaram o rapaz.
A casa de sua irmã e de seu cunhado era longe. Contou umas moedas e
resolveu ir de moto-táxi. Chegou tranquilo, mas triste por não ter um mísero
real no bolso. Cumprimentou todos os presentes, sentou em uma cadeira e abriu a
primeira cerveja. Enquanto bebia, acendeu um cigarro. Entre um trago no careta
e um gole na breja, observava o papo dos demais. Sem muito interesse no assunto,
aguardava uma brecha para entrar na conversa e mudar o rumo das ideias.
O bate-papo não o atraía. Não
logrou êxito em mudar o tema que reinava na roda. Ninguém merecia passar a
noite toda escutando sobre novela, atores e atrizes. Revoltou. Tirou o celular
do bolso, abriu a quinta latinha e se desconectou do ambiente. Talvez, entre
uma mensagem e outra, conseguisse um trocado emprestado ou uma carona até o
centro de São Paulo.
Embora colecionasse muitos
contatos em sua agenda, somente um poderia ajudá-lo no momento: o De Gardena.
Muta, porém, já devia 20 reais para De Gardena e teria que ser muito bom de
lábia para negociar o empréstimo e a carona.
- Eaí, parça. Suave? Fazendo
o que aí?
- Suave. Tô moscando em
casa. Vendo TV.
- Tá afim de ir pra Augusta?
- Será? Já é tarde, man.
Você tem quanto aÍ?
- Não tenho nada. Se você me
emprestar eu pago depois.
- Tá tirando, hein. Já me
deve. Arruma aí com alguém que eu coloco a gasolina.
- Vou tentar aqui.
Chapado, percebeu que as horas se passaram muito depressa e já era de madrugada. Ninguém queria emprestar dinheiro para o pobre desempregado, que perdia cada vez mais a esperança a cada resposta negativa.
Chapado, percebeu que as horas se passaram muito depressa e já era de madrugada. Ninguém queria emprestar dinheiro para o pobre desempregado, que perdia cada vez mais a esperança a cada resposta negativa.
O remédio não fazia mais
efeito. A preocupação com o desemprego não passava mais pela cabeça de Muta e o
término do relacionamento nem o abalava mais, pois conversava com seis garotas
pelo celular atrás de uma companhia.
Como nada saiu como ele
esperava, desistiu. Bem louco de álcool, doente, sem condições de voltar para
casa, o jeito foi implorar um cantinho pra dormir ali mesmo. A noite só seria
um desastre completo se a bateria do celular acabasse, já que o carregador
estava bem longe dali. O jeito foi cancelar a missão:
- Eai, De Gardena. Deixa
quieto essa fita. Tô bem loco e ninguém me emprestou nada.
- Firmeza, mano. Tô aqui vendo
um filme do Che. Mó sono já.
- Podi crê. Coloquei um
colchonete aqui na cozinha. Vou dormir aqui mesmo. Tô só o pó. Osso é aguentar
o barulho dessa geladeira velha.
- Que situação, hein, mano. Boa
sorte aí. Não esquece dos 20 reais que me deve. Abraço.