Em
plena quarta-feira, movida pela forte garoa que molhava os desprevenidos, meu
amigo Flavinho decidiu que naquele dia assistiríamos o Tricolor no Morumbi.
Antes do galo cantar, ele me ligou dizendo que às 15 horas nós iríamos
até o bar que fica perto do estádio, na Saad, para ver a Seleção Brasileira
jogar e logo em seguida caminharíamos até o Cícero Pompeu de Toledo.
Com
aquele tempo, certamente poucas testemunhas compareceriam para presenciar a
espetacular batalha entre São Paulo e Ponte Preta. Particularmente, desde que
comecei a frequentar os campos de futebol, não me importo se o estádio está
vazio e às vezes, até prefiro.
O
Fom e o Magal também se animaram a ir e, uma hora depois do horário marcado,
saímos em direção à Dutra. Durante o caminho, ao avistar as paredes da Rodovia
repletas de "pixações" do nosso amigo que havia falecido no primeiro
dia da semana, lamentamos e refletimos sobre a fatalidade que o levou para mais
perto do Criador. Lembramos que ele era fanático pelo Santos e ao falar do time
da Vila, recordamos sobre o clássico que o Soberano perdeu no último final de
semana. Três a um, roubado, para o clube do litoral... ele deve ter
gritado os gols lá do céu, ao lado de Moisés e Abraão.
Naquele
momento não estava frio. Magal, Fom e eu havíamos esquecido nossas blusas e
somente o Flavinho foi prevenido. Apesar de haver trazido sua jaqueta, o filho
do Gaspar calçava um tênis que parecia uma bola de futebol americano, que após
alguns passos, o presenteou com algumas bolhas em seu pé direito.
Ao
chegar no Bar, a chuva já caía e o vento começava a mostrar que também
testemunharia a partida. Enquanto o Brasil apresentava um futebol de amador,
comemos uma porção de frango à passarinho e para finalizar a janta, cada um
comeu um lanche. Alguns senhores, com os olhos atentos à TV, reclamaram do
Neymar. Segundo eles, esse safado só joga bem por aqui, lá fora tem vontade de
pedir autógrafos para os gringos.
Aproveitando
o momento, um vendedor de capas de chuva apareceu e nos ofereceu o produto. Não
pensamos duas vezes e compramos as blusas de plástico. Isso ajudaria a frear o
vento.
Não
torço pra Seleção e quando o Luís Fabiano foi substituído, achei injusto. O
Felipão deveria ter colocado o Fabuloso para jogar com o Lucas e não com o
Ronaldinho, que não fez nada além de perder um penalti.
O
amistoso acabou, a Inglaterra ganhou e nós, debaixo de uma garoa, andamos até
uma farmácia para comprar um Band-Aid pois o menino que vestia dois pares de
meia e calçava o tênis super apertado, já não aguentava caminhar.
Problema
resolvido, fomos em direção à nossa segunda casa. Quase não havia torcedor pela
rua, mas o policiamento estava lá para manter a ordem. Os Guardas
Metropolitanos também marcaram presença. Posicionaram-se como um exército para
evitar que os ambulantes vendessem seus produtos. Mesmo assim, os trabalhadores
se escondiam e comercializavam seus refrigerantes, suas cervejas e suas capas
de chuva.
Paramos
em frente à antiga Banca da Placar e esperamos a chuva amenizar. São Pedro nao
colaborou. O Fom disse para continuarmos a caminhada até a rampa de acesso.
Talvez o portão já estivesse aberto e no corredor do estádio a chuva não nos
alcançaria.
Magal
comentou sobre a falta de respeito dos organizadores do campeonato. Neste ano,
a Federação aumentou o preço dos ingressos para 40 reais, um absurdo para um
país como o nosso. Eles sabem que apesar desse valor, os torcedores que são
apaixonados por seus clubes, desembolsam a quantia que for necessária para ver
seu time jogar. Mas, graças à diretoria do São Paulo, o setor amarelo custa 10
reais, e foi ali que assistimos Lúcio, Osvaldo, Ganso e companhia parar na
defesa do time campineiro.
Enquanto
o jogo não acabava, o Fom e o Magal comeram umas três caixinhas de Ragazzo e o
Flavinho quase não viu as jogadas porque a chuva molhava as lentes de seus
óculos.
Bom,
sabe aquele dia que o 0 a
0 estava escrito desde o início da partida? Pois é, foi assim. Jogo truncado,
cadeiras vazias, chuva, frio e um São Paulo apático em campo. Alguns
torcedores criticaram a falta de raça da equipe, outros incentivaram o tempo
todo e teve um maluco que passou o intervalo inteiro xingando a imprensa. O
público pagante foi de 5 mil e poucas pessoas. Quatro mil a mais do que o São
Paulo e União São João que meu pai me levou debaixo de um temporal, quando eu
tinha 14 anos.
Após
o apito final do árbitro, o céu abriu e as nuvens carregadas foram embora.
Apesar do resultado e do tempo desfavorável, sempre é bom estar no Morumbi, e
com os amigos é melhor ainda. Além do futebol, colocamos a conversa em dia e
agradecemos pela amizade que fez da simples quarta-feira, um dia eternizado na
memória de cada um.