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domingo, junho 24, 2012

O contra-ataque

Era dia de clássico. A rivalidade entre os dois times ultrapassava as quatro linhas do gramado e estendia-se até as arquibancadas e bairros da cidade. Durante a semana, os meios de comunicação colocaram essa partida como o evento mais importante do país. Deixaram de denunciar a corrupção nacional e o descaso da saúde pública para alienar a população com o futebol, que, diga-se de passagem, é a paixão nacional.

Na véspera do confronto  houve muita provocação entre os dirigentes dos dois clubes. Talvez fosse uma estratégia para deixar o clássico com clima de batalha e assim, incentivar os torcedores a comparecerem ao estádio.

Os jogadores pediam aos torcedores que lotassem todos os espaços daquele grande templo do futebol. Alguns telejornais entrevistaram torcedores nas ruas para mostrar como estavam seus corações em relação ao grande duelo.

Muitas estratégias foram usadas para fazer deste clássico, assunto principal no meio da sociedade.

Finalmente, o dia chegou. Grande contingente policial nas imediações do estádio. A imprensa estava frenética. Todos estavam ansiosos para saber quem ganharia esse importante duelo.

Na sede das torcidas organizadas de ambos os clubes, torcedores eufóricos ao som da bateria, cantavam gritos de guerra e se preparavam para sair rumo às arquibancadas.

Chegada a hora, guardaram as bandeiras e os instrumentos, entraram nos ônibus e saíram.

Eram milhares de torcedores. Estavam dispostos a guerrear. Não demonstravam medo. Portavam-se como guerreiros.

Os cidadãos que caminhavam pela calçada se espantavam com os gritos enlouquecidos que vinham das janelas dos ônibus. Algumas pessoas até entravam em estabelecimentos para se proteger de um eventual conflito.

Mas, apesar do clima que envolvia aquele domingo, a caravana não seguiu o caminho que levava ao estádio. Pelo contrário, seguiu em direção ao centro da cidade onde acontecia um protesto contra alguns políticos que desviaram dinheiro público.

De repente, as torcidas rivais se encontraram na última avenida que levava até à manifestação. Todos desceram dos ônibus e, ao som da bateria e com as bandeiras levantadas, marcharam até a multidão.

Pediam justiça e diziam que estavam cansados de ver o "circo" que é a política brasileira. Alguns, mais enfurecidos, comentavam que havia chegado a hora de combater com as próprias forças esse "câncer" que dominou o governo nacional.

Um pouco longe dali, no estádio, ninguém entendia o que estava acontecendo. Os repórteres e dirigentes dos clubes se perguntavam o porquê do estádio estar vazio. Na verdade, no íntimo de cada um, havia medo. Medo do brasileiro se libertar da alienação do futebol e resolver lutar pelos seus direitos constitucionais.