Acordei bem disposto naquela manhã de quinta feira, 10 de junho. Peguei alguns pesos (moeda boliviana) para o "busão" e para o almoço, e fui pro meu estágio no jornal El Día. Chegando lá, meu chefe me incumbiu de fazer uma matéria sobre a Primeira Feira de Automóveis de Santa Cruz. Fui até o local, peguei as informações e voltei pra escrevê - la. À 1 hora da tarde fui almoçar com meu amigo Josué, num restaurante que fica ao lado do Jornal. Voltei, terminei de escrever o texto, me despedi da galera da redação e fui pra avenida pegar o ônibus.
Peguei o “busão” da linha 77, que me deixava a um quarteirão do meu quarto. Tomei um café colombiano e fui até a lan house imprimir um trabalho da faculdade. Entrei no meu Orkut pra ver se tinha alguma coisa e pra minha surpresa... a vida tinha resolvido dar outro rumo na minha história.
Umas mensagens sem sentido que li me deixaram em choque. Corri até o “punto de llamadas” e telefonei pra minha casa. Recebi a triste notícia que meu pai tinha falecido. Fiquei sem reação. Sozinho, comecei a olhar para as pessoas e para os ônibus que estavam num engarrafamento e... ah, deixa pra lá! A vida tinha resolvido me dar uma rasteira.
O vôo pra Cumbica sairia às 4 da manhã. Sem dinheiro no momento, o don Carlos, diretor do orfanato Stansberry, emprestou 600 dólares pra que eu e o Magal pudéssemos voltar. Logo, o Netinho chegou do trabalho e nos levou até a sua casa pra aguardar o horário da viagem. Nem imagino como seria se eu não tivesse essa família da Bolívia ao meu lado, no momento em que eu perdi o chão.
Tristeza e ansiedade até às 4 da manhã. Não consegui jogar futebol no PS2 pra acalmar e o jeito foi ouvir muitas vezes “Como vai seu mundo”, do Dexter. Cheguei às 11 horas da manhã em Santa Isabel.
A vida na capital cruceña era desafiante pra mim. Tudo havia melhorado até aquela data. Eu estava no terceiro semestre da faculdade de jornalismo e tinha conseguido um estágio no jornal El Día. Também tinha comprado uma cama e uma geladeira, tinha um fogão e uma TV emprestada e sempre ia até a casa da Yara pra almoçar, porque arroz com cenoura todo dia estava me deixando seco.
Mas, como a vida tem dessas coisas, a hora de voltar pra Santa Isabel e começar tudo de novo tinha chegado do jeito mais triste possível. Os tijolinhos que eu estava construindo haviam sidos destruídos pela fatalidade da vida e o “barato” tinha ficado “loco” de vez. O ano de 2010 ficou marcado. Foi o ano que eu aprendi a perder e também aprendi que no tempo de angústia nasce o irmão.
Parece uma daquelas frases que se fala da boca pra fora, mas pude viver isso no meio dessa confusão toda. O Magal, a Yara, o Don Carlos, o Neto e a Paola me ensinaram que amizade de verdade é outra “fita” e que mesmo eu não tendo nada pra oferecer, eles estavam do meu lado. Talvez eles nem saibam o quanto sou grato a Deus pela disposição que eles tiveram em me ajudar.
Acho que amigo de verdade se conta no dedo. Melhor assim...